CVRD nega monopólio sobre minério de ferro e outras atividades

Uma matéria publicada na "Folha de São Paulo" de hoje está dando o que falar. O jornal fez um levantamento que mostra que, dez anos depois da privatização, a Companhia Vale do Rio Doce é hoje dona de um monopólio privado na produção e na exportação de minério de ferro no Brasil. Desde 1997, o lucro da mineradora aumentou 17 vezes, e a empresa passou a dominar a produção e a logística de exportação do minério. Obviamente, a empresa rechaçou a pecha colocada pelo jornal, afirmando que ficou do tamanho que é hoje comprando empresas que foram postas à venda por controladores multinacionais.

Em tese, as empresas - outras mineradoras e concessionárias de serviços de logística - poderiam ter sido compradas por qualquer outra companhia. A companhia investiu, em um primeiro momento na infra-estrutura, o que é perfeitamente compreensível: a malha ferroviária brasileira de carga era inexistente e, quando existia, era um monte de sucata. Quando a explosão de preço do minério de ferro no mercado internacional aconteceu, em 2003 e 2004, a Vale já estava com toda a infra-estrutura comprada.

O que explica isso, e a "Folha de São Paulo" omite, chama-se CONHECIMENTO. A Vale não é um bando de aventureiros, e possuía conhecimento suficiente para saber do potencial de suas reservas no país. Investindo em infra-estrutura, coisa que o governo já se mostrou inapto a fazer - o fato de que nem as Parcerias Público-Privadas nem o Programa de Aceleração do Crescimento deslancharam são duas provas cabais da afirmação - era só correr para o abraço.

Mas o governo também está ganhando com o crescimento da empresa, tanto pelos investimentos em infra-estrutura quanto em recebimento de impostos, dividendos (é acionista da Vale) e com as exportações. Hoje, da estatal que era em 1997, praticamente só o nome ficou: são mais de 70 empresas controladas, exportações de 217 milhões de toneladas de minério de ferro e um lucro líquido que foi de R$ 756 milhões em 1997 para R$ 13,4 bilhões em 2006.

É certo que tanta pujança é alvo de questionamentos, e a CVRD já foi acionada pelos órgãos de defesa da concorrência em 46 vezes desde então, como revela a Folha. Num encontro com a chinesa Baosteel, nesta manhã, o presidente da Vale, Roger Agnelli, rebateu as afirmações de que a mineradora é monopolista, lembrando que a empresa foi a única, por exemplo, a se inscrever para participar do leilão da Ferrovia Norte-Sul, realizado hoje. "Depois que está pronto, é fácil dizer que a Vale é monopolista", defendeu-se.