Essa rocha é um meteorito?
A motivação para escrever esse artigo veio das
inúmeras consultas sobre como identificar meteoritos que tenho recebido
através do site. Uma resposta para essa pergunta pode ser difícil até
mesmo para os especialistas mais experientes. Não há profissão formal
qualificada para essa análise. A que mais se aproxima é a de geólogo.
Porém esses foram treinados para identificar rochas terrestres e a menos
que um geólogo não tenha se especializado e experiência com meteoritos
não irá conseguir fazer uma identificação melhor do que uma pessoa que
tenha estudado e esteja habituada a fazer isso [1]. A vasta maioria de
caçadores e colecionadores de meteoritos não é formada por geólogos e
muitos deles adquiriram com o tempo uma grande experiência nessa área.
Análise da superfície externa
Quanto à cor da superfície externa, pode
haver muita variação. Um meteorito recém-caído, condrito ou siderito,
vai apresentar uma crosta de fusão preta que vai se perdendo com o
tempo.
Um condrito em ambiente terrestre perde a sua crosta escura que vai ficando marrom ligeiramente brilhante. Abaixo uma foto de um meteorito que já sofreu a ação do ambiente terrestre e perdeu boa parte da crosta de fusão preta. Nesses meteoritos também são observadas algumas rachaduras provenientes de dilatações e contrações contínuas ao longo do tempo.
Em relação aos meteoritos ferrosos ou
sideritos, a grande maioria não teve a queda presenciada e são
encontrados muito tempo depois. Em geral estão enterrados e a sua
superfície externa já está totalmente oxidada.
Com a finalidade de exibir a constituição interna de um siderito, removi toda a camada externa resultando na seguinte peça:
Análise da região interna A análise da região interna deve ser feita somente depois que a amostra tenha passado pela análise da superfície externa. A região interna do meteorito é muito diferente do que se pode ver externamente. Uma análise dessa região é fundamental. Muitas pessoas que tentam analisar uma amostra não percebem essa diferença. Para os dois principais grupos de meteoritos (condritos e sideritos) vou descrever o que se espera e como se faz a análise. Em todos os casos é necessário fazer uma janela polida do material. Isso pode ser feito facilmente com uma lima e algumas lixas. Uma mini-retífica tipo dremel com um disco diamantado é muito prática para fazer essa janela. Meteoritos não possuem buracos ou vesículas em seu interior. Condrito: Em meteoritos cuja queda foi recente o interior da amostra é claro e vai escurecendo com o tempo. Nesse tipo de meteorito o que se observa em uma janela polida do material são dois tipos de estruturas: 1) Côndrulos: Os condritos são formados por estruturas chamadas côndrulos (o nome condrito vem disso). Dependendo do tipo do meteorito esses côndrulos são mais ou menos visíveis e praticamente invisíveis em alguns casos. Uma nomenclatura de classificação de meteoritos rochosos ou condritos vem justamente dessa diferenciação dos condrulos. O tipo 3 é o que apresenta os condrulos mais definidos e consequentemente mais facilmente visualizados em uma janela polida. Segue abaixo uma foto de uma fatia do meteorito Buzzard Coulee evidenciando as estruturas chamadas côndrulos:
Veja abaixo uma ampliação da fatia com alguns côndrulos assinalados em vermelho:
2) Grãos de metal: Os condritos também contém uma pequena quantidade de ferro em seu interior. É por isso que um ímã também atrai a maioria dos meteoritos rochosos. Isso é facilmente visível através de uma seção polida. Onde é possível verificar a existência de pequenos grãos de ferro. Abaixo uma fatia do meteorito Lamesa (b) da minha coleção. Observe os pontos prateados no interior da seção. Esses pontos são formados de ferro e níquel!
Se o material em análise aparenta uma janela homogênea (sem côndrulos ou grãos metálicos) que não seja metálica, então não é um meteorito! Siderito: Uma janela polida de uma amostra candidata a siderito deverá apresentar um aspecto homogêneo brilhante com a cor de aço inox. Removendo a camada externa que pode ser a crosta de fusão ou uma camada oxidada o interior vai ser essencialmente ferro. Ainda é possível encontrar amostras de ferro que não são meteoritos e foram originadas em processos gerados pelo homem como em fundições (escória) ou em artefatos metálicos. Nesse caso uma análise mais profunda do material é necessária. É possível sem grandes dificuldades fazer dois tipos de análises nessa situação: Teste de Níquel: um siderito é composto de uma liga de Ferro e Níquel. “Meteoritos” suspeitos encontrados e que possam ter origem em algum processo de origem humana dificilmente conteria níquel. Para esse teste é usado um reagente que facilmente indicará a presença de níquel. O teste de níquel pode ser feito facilmente e deveria ser obrigatório em toda analise envolvendo possíveis sideritos. Estrutura de Widmanstätten: Também chamada de estrutura de Thomson (na verdade o descobridor), são figuras únicas de longos cristais de ferro e níquel encontrados em meteoritos ferrosos octahedritos e alguns palasitos. São constituídos pela sobreposição de bandas de tenita e kamacita (ligas com diferentes constituições de ferro e níquel). Sua formação somente pode ocorrer em ambiente extraterrestre. Para verificar se uma amostra apresenta a estrutura de Thomson, deve-se primeiramente preparar uma superfície bem polida. Após aplicar uma solução de acido nítrico e ferro chamada NITOL. A solução ácida irá atacar as ligas de ferro-niquel de maneira diferente. Parte da liga menos resistente irá ser removida com a solução ácida e alguns padrões serão formados.
Resumo Segue algumas perguntas que podem dar um forte indicativo para uma amostra em análise ser um meteorito: 1) A amostra é densa? Um meteorito é cerca de duas ou três vezes mais pesado do que uma rocha terrestre com tamanho similar. 2) A amostra é sólida e compacta? 3) A amostra é atraída por ímã? Cerca de 95% dos meteoritos são atraídos por ímã. 4) A amostra é preta ou marrom e apresenta uma superfície homogênea? A crosta de fusão de um meteorito recém-caído é escura. O ambiente terrestre irá fazer essa crosta preta ficar marrom. 5) A amostra apresenta partículas prateadas em uma superfície cortada e polida? Essas partículas são compostas de ferro e também participam da constituição dos meteoritos rochosos.
Envio de amostras Se você fez os testes e ainda acha que tem um meteorito e quer saber mais envie fotos e perguntas para o Portal do Geólogo 42 André Moutinho é o membro 2731 da Associação Internacional de Colecionadores de Meteoritos (www.imca.cc). Aficionado colecionador de meteoritos e também atuante na divulgação, caça e descoberta de novos meteoritos brasileiros. Possui reputação internacional e único dealer brasileiro de meteoritos presente em eventos como a feira de gemas e meteoritos em Tucson/USA. |