A exploração mineral brasileira à beira do abismo
por
Pedro Jacobi
Os três melhores indicadores de uma exploração mineral saudável em um
país são: o emprego, a sondagem e o número de análises químicas feitas
em laboratórios analíticos.
Depois da crise de 2008 a exploração
mineral voltou a aquecer no Brasil atingindo, gradativamente, o seu pico
em 2010-2011. Nesta época a exploração mineral brasileira estava
aquecida. O mercado era efervescente. Era difícil contratar geólogos
experientes e quase impossível contratar a sondagem para os inúmeros
projetos de exploração mineral. Os laboratórios de análises estavam
abarrotados refletindo o excelente momento da mineração brasileira.
Em 2012 somente as juniors canadenses investiam US$416 milhões em 154
projetos no Brasil.

Foi um período de grandes descobertas minerais e o Brasil parecia
ter um futuro brilhante.
Tudo ia às mil maravilhas até que, em 2011,
de uma forma sub-reptícia começou o apagão mineral.
Este fenômeno
foi o resultado de uma das decisões mais absurdas e pouco inteligentes,
jamais feita por um governo brasileiro em toda a história republicana.
O Ministério de Minas e Energia, na época, era chefiado pelo
Ministro Édison Lobão, famoso nas páginas de escândalos e corrupção e um
dos arquitetos da crise, resolveu simplesmente paralisar as concessões
dos alvarás de pesquisa e de lavra paralisando projetos e espantando o
investidor.
A partir deste momento o Brasil viu um verdadeiro
tsunami que arrasou, inexoravelmente, as empresas, os empregos e
obliterou o setor mineral.
O governo brasileiro, na contramão da
história simplesmente fechou a torneira da pesquisa e da exploração
mineral ameaçando o setor com um “Novo Marco Regulatório da Mineração”
que transitou, por anos, nos corredores do Congresso e, até hoje, quase
5 anos após a sua elaboração, ainda não foi aprovado.
Enquanto isso,
lá fora, nos países onde a mineração recebe o devido respeito, os
governos tentavam todas as formas para atrair o mesmo investidor que o
MME e o Governo Brasileiro estavam expulsando do Brasil. Esses
governos foram bem sucedidos! E, hoje, estão revertendo os efeitos da
crise atraindo novos investidores e novos projetos de exploração
mineral.
Já, aqui no Brasil, a pesquisa mineral foi reduzida a
praticamente nada.
Uma excelente pesquisa feita no DNPM, pela
revista InTheMine, mostra um fenômeno perturbador. Os minerais mais
pesquisados no mundo, que são ouro, metais básicos, e metais ferrosos
estão desaparecendo das estatísticas do DNPM (veja a imagem abaixo).

Isso é assustador e mostra a profundidade do desastre. É a pesquisa
desses minérios que sustenta toda a cadeia da exploração mineral,
gerando empregos, projetos, sondagens, geofísica, geoquímica e milhões
de análises. A mesma pesquisa que sustenta toda uma cadeia produtiva
que inclui as junior companies, as empresas de geologia e prospecção, de
sondagem, laboratórios e as milhares de empresas de consultoria que
fazem o setor crescer e gerar riquezas.
Aqui no Brasil a pesquisa
tradicional deu lugar aos minerais industriais. Os novos requerimentos
feitos no DNPM são, principalmente, para areia, argila, granito e calcário. Em 2013
predominaram os requerimentos para minerais industriais e, em décimo
lugar veio os requerimentos para diamantes. Em 2014 vemos o tímido
retorno do ouro e do ferro que ficam na quinta e sexta posição, atrás
dos industriais.
Qual o significado disso? É o fim da pesquisa
mineral como a conhecemos!
É também o fim do investimento estrangeiro na
exploração mineral do Brasil pois 90% da pesquisa mineral é feita para
metais básicos, ouro, diamante e metais ferrosos. Um país que não busca
esses minérios está fadado ao terceiro mundo.
Se ontem as juniors
investiam mais de US$700 milhões por ano em busca de ouro, metais
básicos e ferrosos em solo brasileiro, hoje os investimentos estão
tendendo a zero. E, com a falta dos investimentos, veremos as minas
atuais se extinguirem sem novas descobertas minerais para repor o
minério lavrado. A falta de descobertas nos obrigará a importar o
minério que deveria estar sendo produzido aqui.
A falta de pesquisa
mineral, causada pela política xenófoba e pouco inteligente do Governo
Brasileiro destruiu, completamente, o setor e está lançando o país no
limbo da mineração. Em breve toda a população começará a colher os
amargos frutos desta política.
O desemprego é geral.
Em nossos contatos com as empresas de sondagem e com os laboratórios de
análises químicas, dois dos mais importantes termômetros da pesquisa em
um país, ficamos estarrecidos com a situação calamitosa em que eles se
encontram.
O fim da pesquisa mineral é o fim dos laboratórios de análises e
das empresas de sondagem
Laboratórios
O Laboratório Intertek, por exemplo, um dos maiores
do mundo, presente em 24 países e com filiais em onze estados
brasileiros está em situação precária.

Desde 2013, quando o congelamento dos alvarás matou a pesquisa mineral,
o Intertek teve que demitir nada menos do que 174 colaboradores diretos.
Desde então os negócios caíram 90% no que configura o maior desastre da
história da pesquisa mineral brasileira. Mesmo assim o Intertek luta
para sobreviver. Um de seus laboratórios brasileiros, com capacidade
para 30.000 amostras por mês, está parado e poderá fechar se nada
ocorrer de positivo na pesquisa mineral até maio deste ano. O
laboratório sobrevive com pouquíssimas amostras de ouro (1.500), metais
básicos (1.300), alumina (100) e ferro/Mn (150). A crise atinge o
setor como um furacão e outros laboratórios não se mostraram tão
resistentes quanto o Intertek e fecharam as suas portas demitindo seus
funcionários altamente treinados.
Sondagem
O ambiente desesperador encontrado nos laboratórios é o mesmo entre as empresas de sondagem.
Em entrevista
para o Portal do Geólogo o Empresário Luiz Carlos Vasco, sócio da
Unidrilling, conta que nunca em sua carreira de 38 anos no setor a
situação esteve tão grave.
Para poder sobreviver as sondadoras
baixaram os preços do metro aos patamares dos anos 80. Infelizmente isso
não foi o suficiente, pois com custos crescentes e falta de
investimentos, a sondagem do setor mineral está, hoje, com uma
ociosidade de 70% imersa em um processo de desemprego em massa.
Mais
de duas dezenas de empresas de sondagem fecharam as portas.
As que
ainda sobrevivem estão sondando obras de engenharia, que começam,
infelizmente, a ser paralisadas graças ao efeito Operação Lava a Jato.
Em 2014 até a maior empresa de sondagem do mundo, operando há dezenas de
anos no Brasil, não conseguiu sobreviver no ambiente hostil do nosso
país e fechou as portas demitindo todos os seus funcionários. As
grandes empresas de sondagem que ainda tentam sobreviver estão reduzidas
a 30% de sua capacidade.

Não há como negar, o MME mergulhou o setor em um cenário de
devastação total.
Sem novas licenças e portarias de lavra, sem
investimentos o mundo mineral sofre de uma estagnação artificial, sem
precedentes. Segundo Vasco trata-se de uma “tática para forçar o
setor a engolir o Novo Marco Regulatório da Mineração”.
Vasco está
certo. Por trás desta crise, que o governo teima em internacionalizar,
está o MRM.
Nestes anos de abandono do setor ficou provado que fazer
um instrumento dessa importância, nos obscuros escritórios do poder, sem
consultar aos mineradores e os segmentos envolvidos na pesquisa mineral é
um erro crasso. Esse erro desestruturou e sucateou a exploração e a
pesquisa mineral do país, um dos mais importantes segmentos da
mineração.
A crise está instalada e nada está sendo feito, pelo novo
Ministro de Minas e Energia, para resolvê-la.
Em consequência o
mercado se vê inundado por profissionais altamente treinados que
simplesmente não tem mais para onde ir.
O pior é que os escândalos de
corrupção tendem a contaminar quase todos os setores produtivos do país.
A crise do setor mineral é o prenúncio de uma outra sem igual, que
irá se alastrar de norte a sul. O Brasil verá, ainda em 2015, a
paralisação de suas grandes obras de engenharia e de infraestrutura o
que irá gerar mais desemprego e mais miséria.
Tudo leva a crer que em breve veremos o
impensável: o sucateamento de uma nação.

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