JC: um geólogo de 200 milhões de dólares

 

por Pedro Jacobi

 

Bilhões  de anos atrás, em quietas bacias restritas de um mar pretérito, depositavam-se os sedimentos químicos ricos em ferro e sílica que mais tarde, intensamente metamorfizados,  iriam aflorar no sertão Baiano. Estas mesmas formações ferríferas que hoje fazem as manchetes, foram descritas pelos exploradores de 1800, pelos geólogos pioneiros como Sylvio Fróes de Abreu e Octávio Barbosa, mapeados pelos geólogos da CPRM e CBPM e reconhecidos pelas inúmeras equipes de pesquisa mineral que atuaram naquelas paragens em busca de ouro e metais básicos nas décadas de 80 e 90.

Todos sabiam, muitos escreveram, poucos vislumbraram mas somente um, João Carlos Cavalcanti, o JC, realmente enxergou o potencial econômico das formações ferríferas de Caitité.

Durante quatro dias o Portal do Geólogo esteve, mais uma vez, com JC, não somente nas suas áreas do Sertão da Bahia como no seu escritório em S. Paulo e nas suas residências de Salvador. Pudemos verificar de perto o impacto das negociações recentes na sua vida e o quanto as suas descobertas poderão afetar o pobre interior da Bahia.

JC

JC, é uma pessoa complexa e carismática cujos cabelos e barbas brancas reforçam a aura mística que cultua. Um devoto de S. Francisco de Assis, que nasceu em Caculé no interior da mesma Bahia que agora pensa revolucionar.

"Sou apenas o canal" diz JC que tem a inteligência espiritual e intuição como a suas maiores armas. Ele é um geólogo com o típico perfil do exploracionista bem sucedido: 70% feeling e 30% técnica. Não se relaciona bem com computadores ou com métodos "state of the art" preferindo se deixar levar pela visão macro da exploração mineral. Fórmula que, como veremos a seguir, atingiu o sucesso.

Foi pesquisando os relatórios de exploracionistas antigos que JC despertou para os itabiritos do Sertão Baiano. A sua intuição foi a sua maior ferramenta de trabalho e, entre as pesquisas na biblioteca da CPRM e a primeira viagem ao campo, poucas semanas transcorreram.

Bingo! A re-descoberta do maior distrito ferrífero da Bahia estava feita.

As notícias (veiculadas em primeira mão pelo Portal do Geólogo) causaram verdadeiro furor no mundo mineral. Por mais interessante que possa parecer ao invés de ser aplaudido JC foi, por muitos, ridicularizado e condenado. Poucos aceitavam a idéia de que ele havia feito uma descoberta tão relevante na beira do asfalto ao alcance de todos. Era mais uma fase difícil na vida do geólogo-empresário.  Foi então que ele conheceu de perto os "destruidores de jazidas", os seus colegas de profissão, que movidos por simples incompetência ou inveja muito fizeram para inviabilizar a sua descoberta. 

Quando fala desta fase JC não esconde a sua indignação com a equipe da Rio Tinto que, após breve visita ao campo, torpedeou o seu projeto junto a CBPM causando desdobramentos negativos que afetaram o seu relacionamento com o seu então sócio Eike Batista, com a própria CBPM e com o Governador da Bahia Paulo Souto. Ele afirma que, em conseqüência desta avaliação tendenciosa e negativa funcionários graduados da CBPM tentaram desacreditar a sua descoberta no Simpósio de Ouro Preto de 2005. Era o inferno astral de JC, alimentado por uma oposição ferrenha e indignada movida por desconhecimento, pseudo-verdades e até pela inveja. Ele foi, e ainda é, acusado por muitos de criar e fabricar notícias que o estariam favorecendo nas negociações com multinacionais. O fato é que o mundo mineral ainda mostra enorme dificuldade em aceitar o sucesso consolidado de JC.

A negociação

Especula-se que JC tenha efetuado a venda da maioria dos seus ativos para o Grupo Indiano Mittal, de Lakshmi Mittal, detentor de uma das maiores fortunas do mundo. Respeitando o acordo de confidencialidade, comum a negócios deste porte, JC prefere não entrar nos detalhes negociais. No entanto fica evidente  que ele fechou a maior negociação que um geólogo brasileiro jamais tenha realizado em toda a história da geologia do País. As nossas fontes confirmam que o negócio de JC com o comprador indiano está entre a bagatela de 150 a 200 milhões de dólares. Negócio de dimensões significativas comparável aos que Chuck Fipke (Lac de Gras - Canadá), Bob Friedland (Voisey Bay - Canadá) e David Lowel (Pierina - Peru) fizeram no passado recente.

Nada mal para um garoto de Caculé...

O impacto desta virada de mesa é avassalador. Não há como deixar de sentir que este geólogo, que lembra um mix de roqueiro dos anos 70 com guru indiano, tem na sua bagagem pessoal a autoconfiança dos bem-sucedidos. Por mais que tente, JC não consegue evitar que os seus mais recentes "brinquedos" sejam, ocasionalmente, mencionados nas conversações. E que brinquedos! É o momento da concretização que pode ser sumarizado pela frase de JC: " se gostou baixa"...descrevendo o seu comportamento em uma das muitas lojas que freqüenta. Por motivos éticos não iremos divulgar os detalhes mas podemos afirmar que estes "brinquedos" refletem, com elevada precisão, a dimensão do negócio realizado.

O minério

Itabiritos do bloco 3 - em primeiro plano JC,  com seus executivos e o representante do Portal do Geólogo

 

Em primeira instância as reservas foram discutidas  com uma assessora de imprensa do CTEAD que divulgou o fato. Na época o impacto da notícia foi grande, mas a oposição foi maior e a pobre assessora demitida "por publicar inverdades".

Era uma época difícil que o faz sofrer na carne a desconfiança do setor e, enquanto era torpedeado por vários, os seus recursos financeiros estavam chegando ao zero e as negociações com os grupos interessados se alastravam indefinidamente.

Segundo JC esta situação antagônica começa a mudar com a chegada do assessor do Governador da Bahia, o geólogo José Luis Peres Garrido, que acolhe e incentiva a idéia da descoberta. Logo após é homenageado pela CPRM e uma nova fase começa, culminando no dia 23 de junho de 2005, em Londres, com a bem-sucedida negociação com o grupo indiano que hoje controla os depósitos de ferro de Caitité.

"Foi como virar um jogo que você está perdendo por 6 a zero" diz JC com ar de alívio.

É formada a BML (Bahia Mineração Ltda: Tonarello SA 50%, Siva Ltd 20% e JC 30% ) e JC retorna ao Brasil mais leve e com muitos milhões na sua conta bancária.

Imediatamente começa o due dilligence que visa a concretização da compra dos depósitos pelos representantes do comprador final que tudo indica deve ser mesmo o mega-milionário indiano dono da Mittal e da Arcelor Lakshmi Mittal.

Nesta fase de avaliação, JC montou uma equipe liderada por geólogos experientes, de sua inteira confiança, seus ex-colegas de aula Samuel Souza e Valter Mônaco. Os trabalhos em SP são coordenados pelo Engenheiro de Minas, ex-CVRD, Caio Jatobá. Esta equipe foi responsável por todos os trabalho de geologia, estrutural, geoquímica, geofísica e sondagem que ainda estão ocorrendo nos principais alvos definidos. Até o momento a maioria dos esforços estão concentrados no bloco 3 onde afloram itabiritos intensamente dobrados. Este corpo, com comprimento superior a 2.500m em áreas da BML já foi testado por 44 furos de sondagem espaçados de 100m. Trata-se de um corpo contínuo com mais de 200m de largura onde foram definidos 5 tipos de minério: canga, minério eluvionar/coluvionar, hematita bandada de alto teor, hematita compacta de alto teor e itabiritos. No decorrer dos trabalhos observou-se que a maioria das rochas em sub-superfície são friáveis e pulverulentas o que irá acarretar baixos custos de processamento e elevada liberação. Segundo os técnicos a "vocação do minério" é para pellet  feed. Trata-se, sem dúvida, de um depósito a ser lavrado a céu aberto, com potencial superior a 300 milhões de toneladas que terá um excelente waste/ore ratio e baixo work index.

Os teores preliminares (veja tabela) e as características físicas do minério apontam para vários produtos  que irão compor o mix a ser produzido nos depósitos da Bahia Mineração.

  Fe Si Al P Mn
Itabiritos 30-55% 30-55 <0,3 0,01-0,07 <0,05
Minério hematítico 65% <1 <0,6 0,06-0,6 <0,05

Além deste corpo existem vários outros, ainda em processo de avaliação preliminar, alguns com recursos aparentes superiores aos do bloco 3.

Por mais que se tente minimizar a descoberta de JC e de sua equipe, não há como negar que os trabalhos realizados pela BML estão confirmando, sistematicamente, as suas expectativas quanto a Província de Caitité. As amostras estão sendo processadas em Ouro Preto onde as análises estão sempre relacionadas aos vários tipos de produtos encontrados pela sondagem. De uma forma geral não existem problemas que não possam ser contornados no processamento. O potencial final é indubitavelmente superior a 1 bilhão de toneladas de minério de ferro o poderá tornar esta província na terceira maior produtora de minério de ferro do Brasil, atrás do Quadrilátero Ferrífero e de Carajás.

Estuda-se a possibilidade de enviar, via mineroduto, a polpa para uma região portuária onde o minério será pelotizado e exportado.

E o amanhã?

O resto... bem, o resto ainda está para ser contado. Algo me diz que isso tudo é apenas a ponta do iceberg e que JC está apenas começando...

Vamos ver o que o futuro nos reserva.

O Portal do Geólogo estará lá.

 

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